segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


 "FELIZ ANO NOVO"
PURA EMOÇÃO!
                        - Inês! É Deborah Prates, estou ligando para confirmar nossa presença na lista do Teatro dos Sentidos. Anote meu nome e o da minha filhota. Obrigada.
                        - Ah! Deborah, que bom! Estou marcando com o Grupo às 19:30 horas, na porta do teatro. Fica no Planetário da Gávea. Legal se todos estiverem no horário combinado.
                        A campainha soou. Fui correndo abrir ante o avançado da hora. Era Bel que chegava do teatro que fora com o pai.
                        - Filha! Graças! Tudo bem? Já estou quase pronta. Você aguenta a terceira jornada?
                        - Ai! Cansada, mas aguento. Foi tudo bem, tanto nas compras, quanto no Municipal. São 18:30 horas. A que horas temos que estar no Planetário?
                        - Pois é! Marquei com o táxi às 18:45 horas. Não podemos atrasar. Vamos dar uma corrida!
                        Fomos parar noutro teatro também no Planetário. O relógio corria e nós junto com Jimmy a galope! Chegamos a tempo.
                        - Mãe, lá está o pessoal.
                        - Inês?
                        - Deborah Prates?
                        - Sim! Cá estamos. Essa é minha filhota.
                        E começaram as apresentações com muita alegria. Estávamos em cerca de 15 amigos deficientes visuais e acompanhantes.
                        - Sou Luiz e faço parte do Teatro. Gostaria de saber mais sobre o cão-guia. Isso porque nunca recebemos um guia! Não sabemos como ele se comporta com muito barulho. Vai estranhar? Como devemos fazer?
                        - Ah, Luiz! Boa essa inteiração. Os guias são maravilhosos! São educados, gentis e sabem se comportar como verdadeiros lordes! Desde o treinamento já se acostumaram com o burburinho! Não se preocupem! Vamos em frente.
                        O Grupo do Teatro dos Sentidos estava de prontidão para nos receber com tudo quanto tínhamos direito e muito mais. O público foi dividido em pequenos agrupamentos, sendo, cada qual, conduzido por pessoa da Equipe. Nós três ficamos no aguardo de acomodações mais amplas para que Jimmy ficasse com maior conforto.
                        Após a reunião do público fomos informados que os videntes, bem como os de baixa visão seriam vendados com tapa-olhos. A proposta era nivelar todas as pessoas para que experimentassem os demais sentidos. Já gostei da ideia. Sempre defendi que a sociedade, em geral, precisaria trocar de máscara conosco para que, de fato, pudesse entender a nossa realidade.
                        Todos acomodados. Um artista, então, deu as explicações básicas, de modo que o público entendesse a proposição de Paula Wenke.
                        A peça - "FELIZ ANO NOVO" - escrita e dirigida por Paula Wenke, criadora do Teatro dos Sentidos, é uma encenação concebida especialmente para ser assistida de olhos vendados. Experimentaríamos aromas, sons, sabores e texturas durante o espetáculo.
                        Igualmente todos os presentes foram preparados para que explorassem os sentidos remanescentes - audição, tato, olfato e paladar.
                        Paula desafiou cada um de nós para que encontrásse um novo olhar sobre a narrativa. Para os cegos não foi um desafio, mas um imensurável prazer! Poxa!  Entender a totalidade de uma peça sem o recurso da audiodescrição é tudo que queremos! Óbvio que rendemos graças ao Criador por ter dado ao homem a criatividade para a tecnologia da audiodescrição! No entretanto, com o espetáculo se desenvolvendo naturalmente é bem mais confortável!
                        A história é singela, leve e prazerosa de ser acompanhada com a supressão do sentido da visão. Os atores foram fantásticos! A Equipe, no desenrolar da peça, integrava o público no contexto, trazendo os cheirinhos, sonorização, texturas e muito mais. Plateia e Produção fundiram-se numa inenarrável energia denominada "FELIZ ANO NOVO".
                        Mergulhamos na vida de um adolescente que descobria o amor. Na busca de subsídios para seus sentimentos encontra um livro da autoria de Vinícius de Moraes na biblioteca de seu pai. Em seu folheamento lê versos lindos e sugestivos. percebe que está bem gasto pelo uso. Na contracapa acha uma dedicatória que registra um amor vigoroso e, por ele, desconhecido. Cobra de seu pai - comandante da marinha e viúvo - a identidade dessa mulher. Fica chocado ao ouvir que somente estiveram juntos por uma noite e que nunca mais voltaram a se encontrar. Então, o comandante relembra, numa de suas viagens mar afora, uma noite de reveillon. Viajamos no túnel do tempo numa deliciosa simbiose.
                        Lá vinham os aromas, ruídos, músicas, pipocas, cookies, marshmallows, taças com champanhe, ventos, gotículas d'água, o balançar do navio, mugidos, a roncadeira dos porcos, cocoricós das galinhas, pegada nas mãos, rosas vermelhas, etc....
                        Ficamos inebriados com a festa da passagem do ano com tantos confetes e serpentinas a nos envolver.
                        Verdadeiramente singramos as águas dos oceanos com aquele comandante e suas histórias. Literalmente nos lambuzamos com tudo de bom que a Produção nos ofereceu.
                        O final da peça? Curiosidade mata, né?
                        Saí do teatro com uma mensagem. Temos que ser comandantes de nós mesmos. Isso equivale a pensar com a própria cabeça, ser timão e timoneiro, assumindo riscos pelos erros, pois só erram os que tem a coragem para ousar e, se caírem, levantar e tentar de novo. Sempre e sempre!
                        Fantástica essa experiência. Minha filhota, enquanto vidente, ao final disse: - ADOREI! AMEI!
                        Penso que Paula Wenke seja uma gênia! Que momentos calorosos passamos.
                        Confesso que fui para o teatro com certa dúvida se assistiria mesmo algo de novo. Por que? Porquanto, no último setembro, ter conhecido o cinema "6D's". Nossa! Fiquei encantada com as sensações vividas na sala. poltronas com cinto de segurança que se moviam freneticamente, sensações d'água, cheiros, ventos e ventanias, trepidações, etc... Daí cogitei uma comparação e já fui predisposta a achar a peça "boazinha". Que nada! São situações incomparáveis. Como água e óleo que não se misturam.
                        Sem dúvida alguma é o diálogo a melhor forma de sensibilizar a sociedade e, consequentemente, educá-la para que recepcione melhor a PESSOA COM DEFICIÊNCIA. Não adianta querermos pegar no tranco! Desde o início da civilização que temos ciência das crueldades do homem. Já fomos atirados contra paredões. Depois deixados pelas escadarias das Igrejas. Tidos como loucos. Largados na roda dos enjeitados a espera que ela girasse para dentro de algum convento, etc... Assim, com sua genialidade Paula conseguiu misturar/mixar a plateia de modo a nivelar/igualar a todos. Sem dúvida, prova de sensibilidade e cumprimento da democracia no que tange a ACESSIBILIDADE ATITUDINAL E COMUNICACIONAL. Necessitamos mudar as nossas atitudes. Para tanto, precisamos de, em primeiro lugar, nos amar para, depois, amar o OUTRO e, por via de consequência, o Planeta!
                        Mas como terminou a história? O comandante reencontra a tal mulher do mar? E o adolescente se declara para a coleguinha de escola?
                        A resposta será dada diretamente a você que me lê. A temporada termina no dia 11/12/2011. Vá conferir! Vale a pena!
                        Sem arranhões. Tudo perfeito/impecável!
PARABÉNS A TODA EQUIPE DO
TEATRO DOS SENTIDOS
Carinhosamente.
DEBORAH PRATES (cachogente) e JIMMY PRATES (pessocão)
confira meu blog:
http://deborahpratesinclui.blogspot.com/

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