Elas entraram no banheiro do shopping falando, falando, falando... Falando como todas as mulheres falam quando estão juntas. Muita besteira, muitas confissões e muitas trivialidades essenciais para suas vidas. Em poucos segundos o silêncio corrompia o espaço. Parecia o maior banheiro do mundo. Mari se concertava inquieta pelos cantos enquanto Bettina e Sara, retocavam a maquiagem despreocupadamente leves. De repente, como quem cospe um enorme sapo, Mari confessa:
- Gostei dele!
Sara ficou irritadíssima ao ver que sua amiga estava se entregando a algo tão diferente, e sem conseguir se segurar proclamou:
- Isso é um absurdo!Vocês não têm nada em comum. Mari, você é uma mulher discreta, que detesta chamar atenção. Já imaginou que em todos os lugares que você for com ele todos ficarão te olhando?
Na cabeça de Sara eles não combinavam, nada naquela confissão fazia sentido. Mas Bettina, feliz por ver sua amiga desmoronar por um desejo que roubava até suas palavras, apoiou aquele momento tão sublime dizendo a Mari que estava mesmo precisando de uma certa ousadia , afinal de contas:
-Os opostos se completam!
Mari ficou confusa, mas sabia o que sentia. Ele tinha sido feito pra ela! Como insistir naquela idéia tão forte?! Antes de qualquer suspiro Sara voltou a argumentar e dessa vez foi no ponto mais fraco que a sensível Mari poderia ter. Disse com um ar felino, de quem certamente venceria depois daquelas palavras, que ele era alvo de desejo de muitas outras mulheres. Sendo assim, aquela que o assegurasse pra si carregaria a inveja de todas as outras.
O tiro foi certeiro. Bettina e Mari foram tomadas pela certeza de que não se poderia arriscar pela sorte. E assim Mari teve que arrancar aquela possibilidade do seu mundo, convertendo a tão desejada realização em mais uma utopia.
Bettina levou Mari para fora do banheiro consolando-a. Sara ficou. Calada. Imóvel. Até que pegou o celular:
-Alô, é da “Pé no chão”? A minha amiga tinha reservado um par maravilhoso de scarpins e acabou de desistir.Você reserva pra mim então?
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