Nu de mim mesmo

Cheguei no ccbb as 4h com o objetivo de assegurar o ingresso para a peça que começaria as 8h, e pra não dizer que eu sou exagerada já tinha gente na fila, por sorte eram 2 ''pseudo conhecidos'' (se é que isso existe) que logo se tornaram ''pseudo amigos'' = ). Já de cara falamos da fila ao lado que por sinal estava enorme , era pra peça ''Toda nudez será castigada'', de Nelson Rodrigues. Nesta havia 130 lugares enquanto que para a nossa somente 30. Eles, que tinham visto ''toda nudez'' no dia anterior,me falavam maravilhas sobre, diziam que eu não podia deixar de vê-la, estava no top dez das melhores montagens que já tinham visto, (e como vão muito ao teatro isso pode ser relevante, mas como tem muita coisa ruim por ai isso pode não significar tanto= P) Apesar de toda a publicidade eu desconfio de Nelson, as 4 montagens que vi até hoje não me agradaram, por isso não fiquei nada tentada com a possibilidade de mudar de fila, estava certa de que ficaria sentada ali até as 7 quando os ingressos seriam entregues. Tentei estudar, olhei bem pro meu livro e preferi o papo furado, não é sempre que se tem a oportunidade de saber mais sobre os ''pseudo amigos'' da vida. A conversa foi se arrastando, as filas crescendo, os amigos ''fura- fila'' chegando e os motivos para rir só aumentavam. 7h, ufa, um reclama daqui outro de lá, queria mesmo era ver a cor do meu ingresso, aheeeee pegueiiiii. Agora só precisava esperar mais uma hora para enfim entrar no teatro.Já no hall uma senhora perguntou: '' demora 4 h, é?'' Sim, respondi. ''ah que isso, então não vou ficar não,onde já se viu.'' Ela me deu seu ingresso e eu toda feliz entreguei pra psicóloga que veio de Minas e não iria conseguir entrar por causa de um cara que furou fila.Êh coisa boa,abriram-se as porteiras = ) Bora que essa é a hora!!!Tratava-se de ''Nu de mim mesmo, da cia de teatro Autonômo. ''5 atores se alternam em janelas de histórias que se estendem dos anos 40 até os dias de hoje, ecoando umas nas outras.O texto, com base no depoimento de anônimos é enriquecido com projeções de vídeo e interação com a plateia, que divide o mesmo espaço com o elenco.'Pra variar eu não vou saber descrever, e nem sei se quero, as milhares de sensações que me ganharam enquanto estive imersa na história, o que posso dizer é que durante aquelas 4h eu só quis sair de lá para buscar todas as pessoas que amo, uma por uma, afim de compartilhar com elas todas as maravilhas que o teatro pode trazer para uma pessoa. Foi sublime ao extremo, e não se trata de um otimismo absurdo, pelo contrário, é realidade na veia, de uma forma que todos deveriam ver, sentir e se despir de vez de tudo que nos coloca um véu diante dos olhos.Levantei apenas uma vez para pegar uma cafezinho.Abismada, fiquei observando as pessoas. Alguns olhares atravessavam os atores, outros pareciam pairar no meio do nada, alguns queixos caídos,sorrisos ao meio da boca aflorando o rosto inteiro,estavam todos muito presentes, mesmo os que pareciam não estar.Voltando ao meu lugar, que por sinal estava quentinho,percebi ter chegado uma mensagem no celular, fiquei com receio de ler por me de estragar o momento, mas a curiosidade foi a maior e valeu a pena, parecia que alguém tinha ouvido meus pensamentos. Saímos 00:05. Feriado em plena central. Normal ter medo de caminhar pela Presidente Vargas, onde dezenas de pessoas fazem da rua seu berço, mas quer saber mesmo? A gente tava muito feliz, apesar de indignados, se preocupando apenas em falar baixo para não acordar os que dormiam.Quase chegando em casa senti o peso do céu nos ombros, era quase nada, juro. Meus brincos faziam um barulho parecido com o do meu chama ventos, tirei os brincos e fiquei só com o vento, sussurrando. Já na sala percebi um silêncio incabível, pedi a tv para me fazer companhia até que conseguisse dormir. Foi fácil adormecer com a certeza de que a melhor coisa que poderiar ter me acontecido na vida é ter tido a oportunidade de estudar teatro, e dizer orgulhosa que sou uma atriz,atleta afetiva,eterna aprendiz, nua de mim mesma.